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Campus:
CAMPUS TIANGUA
Tipo da Ação:
Evento
Título:
Escritoras negras brasileiras: vozes da resistência
Área Temática:
Direitos Humanos e Justiça
Linha de Extensão:
Étnico-raciais
Data de Início:
08/04/2020
Previsão de Fim:
08/04/2020
Nº mínimo de pessoas beneficiadas:
1
Nº máximo de pessoas beneficiadas:
250
Carga Horária de Execução do Evento:
2
Local de Atuação:
Urbano-Rural
Fomento:
-
Programa Institucional
-
Modelo de Oferta da Atividade:
Presencial
Municípios de abrangência
Viçosa do Ceará
Ubajara
Tianguá
Formas de Avaliação:
Frequência
Formas de Divulgação:
Site institucional
Redes sociais
Atividades Realizadas:
Minicurso
Nome do Responsável:
Hivi de Castro Sperandio
Equipe:
Nome Instituição Categoria Vínculo Receberá bolsa? Horas Semanais Dedicadas Início da Participação Fim da Participação
Hivi de Castro Sperandio IFCE Coordenador Docente IFCE Não 1 08/04/2020 08/04/2020
Sóstenes Renan de Jesus Carvalho Santos IFCE Integrante Sem vínculo Não 2 08/04/2020 08/04/2020
Parcerias:
Instituição Parceira Parceria Formalizada? Instrumento Utilizado Número do Instrumento
Orçamento:
Conta Valor
Passagens e Despesas com Locomoção 0,00
Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica 0,00
Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Física 0,00
Material de Consumo 0,00
Equipamento e Material Permanente 0,00
Encargos Patronais 0,00
Diárias - Pessoal Civil 0,00
Bolsa - Auxílio Financeiro a Pesquisadores 0,00
Bolsa - Auxílio Financeiro a Estudantes 0,00
Vínculos:
Ação Tipo
Apresentação
A literatura é uma forma privilegiada de elaboração linguística: pacto de recriação do real tangível, assumido entre escritor/produtor e leitor/ouvinte, ela se apropria dos sentimentos, das relações e dos dramas humanos, na tentativa de vazá-los em textos verbais que se apresentam sob as mais diferentes formas. De acordo com Barthes (2013), o discurso literário tem a sua marca nas possibilidades de desconstrução das ideologias e do poder (como categorias repressoras sobre o indivíduo). Em comparação a outros discursos, tais possibilidades, segundo o teórico, são muito maiores. Nesse sentido, cabe-nos questionar: como a literatura, marcada pela liberdade e pela riqueza criativa, tem-se constituído, ao longo de sua formação em nossa história, como palco das produções e representações da mulher negra, evidenciando as diferenças étnico-raciais e, por extensão, de classe que compõem a formação do povo brasileiro? Acompanhar o processo de inclusão da figura do negro no interior das produções literárias nacionais implica, para o aprimoramento de nosso olhar observador, a indispensável análise de Domício Proença Filho (2004), escritor e crítico. Segundo ele, é possível subdividir em dois direcionamentos o modo como os negros e negras se configuram como personagens nas obras de nossa literatura: um se refere ao “negro como objeto, numa visão distanciada”; o outro dialoga com a percepção do “negro como sujeito, numa atitude comprometida”. Muitos exemplos ilustram esses dois direcionamentos e nos embasam rumo a uma interpretação consistente dessa complexa temática, ainda carente de reflexões fecundas, mas necessária a uma postura indagadora que cultive e aprecie a literatura sem distanciá-la de sua potência receptora das diferenças, materialização discursiva crivada pela diversidade. Neste breve momento, o nosso objetivo é cotejar alguns exemplos de obras literárias brasileiras que apresentem modos de ver e recriar a persona da mulher negra. Essa é uma tarefa que pode ser entendida como o desdobramento de outras, maiores, entre elas a que busca a desconstrução dos discursos e das práticas racistas. Pois, como nos alerta Bhabha (2013, p. 141): “O discurso racista estereotípico, em seu momento colonial, inscreve uma forma de governamentalidade que se baseia em uma cisão produtiva em sua constituição de saber e exercício do poder”. Um modus operandi, portanto, que já conhecemos historicamente em nosso país, e de cujo “exercício de poder” e diversas formas de opressão provieram tantas outras práticas criminosas. Todo o empenho para combatê-las jamais será demasiado.
Justificativa
Na literatura brasileira, temos obras de autoria feminina cujos pontos de vista são de narradoras que não olham para as suas personagens (negras) de forma distanciada, mas encarnam legitimamente a voz e a visão de personas que falam do seu próprio lugar e da condição mesma que experienciam na sociedade racista e de raízes escravocratas. Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de volta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. [...] É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e faminto! (REIS, 2018, p. 116) Esse é um trecho do romance Úrsula, publicado em 1859, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”, Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira mulher romancista da literatura brasileira. Nos parágrafos acima, a narrativa concede a Suzana o direito à palavra, a fim de que a personagem – representativa de tantas e inúmeras mulheres que, assim como ela, foram trazidas para o Brasil com a mesma finalidade de exploração – expressasse a sua subjetividade diante das injustiças de que foi vítima, trazida ao Brasil para ser escravizada. Por meio dessa personagem, concluímos: “o enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida das mulheres negras reproduz um padrão estabelecido durante os primeiros anos da escravidão” (DAVIS, 2016, p. 17). Assim, a condição social e de gênero observada em Suzana repercute, ainda hoje, em menores proporções, na vida de muitas mulheres negras trabalhadoras. Vejamos um outro exemplo, agora de uma autora brasileira que iniciou sua carreira literária nos Cadernos Negros e logo em seguida publicou vários livros de poesia, conto e romance, Geni Guimarães. Botei logo a Cema na frente, para ganhar primeiro. Daí a madame enfiou a mão esguia no saco e, quando foi entregar o presente, parou e olhou na carinha negra e boba da minha irmã. Fitou-a com nojo, medo, repudio, ódio, sei lá. Deu um passo para trás e quase jogou o presente na cara da Cema. Virou-se apressadamente, sem ao menos o riso fabricado. Sem ao menos atirar-lhe o beijo hipócrita, frio, triste. Deu-me o meu e o presente do Zezinho. De quebra vieram os complementos: riso enjoado, beijo grudento. [...] No dia seguinte, na hora do almoço, fraca e vazia, vomitei. Era o mal do riso dela no focinho da leitoa, os dentes dela na cabeça da galinha. Era a urina da Cema no meu guaraná, e a carinha suada na testa da rosca doce, remoendo lembranças. Era o meu brinquedo num canto, sem sair do plástico. Ela toda rebocando o meu tempero e encurtando a minha infância. Era ela matando todos os meus natais de macarronada. (GUIMARÃES, 2001, p. 30-31) A narradora desse belo conto, “Fim nos meus natais de macarronada”, que está na coletânea Leite do peito, da mesma autora, revela a hipocrisia de uma mulher branca e rica que, em pleno Natal, vai à periferia entregar presentes às crianças, fingindo-se de boa e caridosa para si mesma. A narradora – ao perceber o nojo e o desprezo com que a madame tratara a pequena Cema (uma criança negra e deficiente mental) – assume um posicionamento consciente e indignado ante a opressão disfarçada que se lhe apresenta e, com muita dor, reconhece o estrago que recai sobre o seu natal “de macarronada”. A expressão é uma referência à sua alegria nessa época do ano, que sempre esteve voltada para o encontro familiar em torno da mesa, quando a sua mãe preparava o delicioso prato, esperado por todos naquela família de pessoas negras e pobres. Vejamos, agora, o nosso último recorte literário, desta vez de uma autora brasileira contemporânea e premiada, Conceição Evaristo. Escrevo como uma homenagem póstuma à Vó Rita, que dormia embolada com ela, a ela que nunca consegui ver plenamente, aos bêbados, às putas, aos malandros, às crianças vadias que habitam os becos de minha memória. Homenagem póstuma às lavadeiras que madrugavam os varais com roupas ao sol. Às pernas cansadas, suadas, negras, aloiradas de poeiras do campo aberto onde aconteciam os festivais de bola da favela. (EVARISTO, 2017, p. 17) Este é um dos parágrafos iniciais dos Becos da memória, dessa autora negra brasileira que, numa narrativa a um só tempo de linguagem muito simples (não simplória) desliza com imensa facilidade para o poético, mesclando memória e imaginação num intercâmbio criativo. As páginas desses Becos trazem para a cena personagens reais, historicamente marginalizados e quase nunca protagonistas de obras literárias (canônicas ou não) da literatura em nosso país. Desse modo, a autora consegue um relevante efeito artístico e estilístico, aliado à sua consciência social de mulher negra que tão bem conhece as agruras de seu povo e sua comunidade, movida que é pelo senso de justiça social.
Público Alvo
todos aqueles que devem, podem e precisam se beneficiar do movimento antirracista a ser encarado por todas e por todos nós.
Objetivo Geral
• Conhecer – por meio de um panorama reflexivo antirracista – algumas das escritoras negras que integram a literatura brasileira, ampliando o sentido da arte literária para muito além dos cânones estabelecidos historicamente.
Objetivo Específico
• Ler e discutir trechos de obras literárias das autoras selecionadas, a saber: Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo e Geni Guimarães. • Aprimorar a sensibilidade diante de temas relacionados à literatura e ao seu papel de humanização no que se refere à luta antirracista, uma luta fundamental a ser travada no Brasil, hoje e sempre.
Metodologia
A metodologia adotada incluirá os recursos audiovisuais disponíveis em notebook, computador e ou celular, os quais facilitarão o uso do aplicativo/ferramenta Hangouts Meet, da Google. Além disso, faremos uso de slides, a fim de que os participantes acessem os textos que serão lidos e comentados.